Como foi?: 8as Noites Europeias de Borboletas Nocturnas

   As Noites Europeias de Borboletas Nocturnas (EMN) fazem parte de um evento público que introduzimos no mês passado aqui. O grande objectivo é que toda a população, esteja ou não ligada à Biologia, possa ver borboletas nocturnas durante uma semana durante a qual se pôde aprender sobre a sua diversidade, formas de vida e a sua importância crucial no ecossistema.
Este ano, 8º ano do evento, participei durante a semana inteira com o biólogo Eduardo Marabuto e o fotógrafo de Natureza Fernando Romão. Não esquecendo dos demais, o João Nunes da Silva, o Carlos Franquinho, a Alexandrina Morgado, o Jorge Almeida, o Eduardo Realinho e a Sarah Pogue - todas caras novas para mim.
   Durante estas noites, usámos uma armadilhagem simples que consiste essencialmente em estender um pano branco sobre o chão e montar uma lâmpada mista de modo a iluminar o local e atrair as borboletas. A dificuldade deste tipo de armadilhagem é a necessidade de gerador ou de ligação eléctrica à bateria do carro, como alguns fazem. Além disso, e no nosso caso, foram necessários cabos, extensões e caixilho de metal para a fantástica lâmpada de luz mista de 250W.
Antes de ler os relatos dos dias, convém saber que em Portugal são poucas as borboletas que têm nome comum associado pois nunca houve uma tradição de dar nomes para este grupo de insectos. Portanto, os nomes terão que ser os científicos. 


    Quinta, 25 de Agosto.
   Na primeira noite, fomos à Serra do Caramulo, onde se fez história científica. Foi a primeira vez que se realizou armadilhagem para borboletas nocturnas nesta Serra. Portanto, tudo o que viesse era surpresa (ou quase...). Acabaram por aparecer mais de 40 espécies.


Lasiocampa trifolii


  Além da L. trifolii, também apareceram a Catocala elocata e Catocala optata que animaram ainda mais a noite inconstante que ora nos providenciava um espectáculo de estrelas, ora uma penumbra resultante das nuvens carregadas que eventualmente começaram a precipitar, terminando a possibilidade de esta primeira noite se estender além da meia noite e meia.


     Sexta, 26 de Agosto.
    Passada a chuva nocturna, acompanhada de frio e tendas molhadas, conseguimos ter um dia solarengo e bem agradável.















Durante o dia, andámos à caça de lepidópteros diurnos, nomeadamente Lycaena tityrus e L. bleusei (fotografias em cima) para ajudar no mestrado de uma colega de Lisboa, o que se fez em qualquer uma das serras que visitámos.

Quanto a esta linda borboleta conseguiram-se atingir quase todos os objectivos, e mais alguns!
Logo nos dirigimos para a Serra de Montemuro e depois de Fernando contente com o seu novo brinquedo, conhecer a Sofia e jantarmos bem (e super baratinho), fomos montar a armadilha a cerca de 1100m de altitude perto de Panchorra.
Esta foi uma noite bem húmida e fria (chegámos aos 2ºC) e como diria o Dr. Death, "O Outono parece ter chegado mais cedo". Este ter chegado mais cedo não só veio no intuito do frio mas também porque nos apareceram borboletas típicas de Outono e não de Verão. Vimos 17 ou 18 espécies mas as mais interessantes foram a Actia caja (à direita) e a Laothoe populi.

Em Montemuro, vimos, também, uma espécie de gafanhoto que apenas existe na Península Ibérica o Steropleurus asturiensis (vídeo abaixo).



    Sábado, 27 de Agosto.
Esta foi finalmente uma noite ligeiramente mais confortável. Montámos a armadilha a mais de 800m, perto de Figueira de Castelo Rodrigo, na Serra da Marofa. No entanto, a humidade e a temperatura - ligeiramente superior à do dia anterior - aliadas ao vento, também não nos trouxe muita bicharada. Colocámos a armadilha no meio de um carvalhal que prometia uma diversidade fantástica, já que o  arvoredo era deveras diverso. As condições meteorológicas não permitiram mas no entanto apareceram algumas espécies interessantes como Lasiocampa quercus, Noctua tirrenica Cryphia lusitanica (segundo registo em Portugal), num total de 35 espécies.
Em simultâneo, o Fernando Romão assim como mais alguns participantes fizeram uma armadilhagem na Faia Brava com 18 espécies.


    Domingo, 28 de Agosto.
Neste penúltimo dia das EMN, seguramente o meu dia favorito, fomos à Serra da Estrela, nomeadamente ao vale do Mondego. Durante o dia, entre brincadeiras com carrinhos, paisagem fantástica que é o rio Mondego e a vegetação envolvente, entre o almoço da Sofia e a fauna fantástica naquele pequeno paraíso de Portugal, passámos talvez o dia mais descontraído de todos. Viram-se juvenis de Rã-ibérica (Rana iberica), Escorpiões-de-água (Nepa cinerea) entre outra fauna. 


Quanto às borboletas nocturnas, foi o melhor dia de todos. Apareceram 65 espécies das quais talvez se possam destacar Actia caja (um novo registo para a Serra da Estrela), Lasiocampa quercusEilema caniola (que aqreceram mais de 100 indivíduos), Idaea rubraria (3º registo ao nível naional), Eupithecia icterata (espécie que apenas tinha sido encontrada na Serra de Montesinho contou, também, com o seu terceiro registo em Portugal - à direira), lagartas de Smerinthus ocellata e a Euplagia quadripunctaria



Smerinthus ocellata

Euplagia quadripunctaria 

    Segunda, 29 de Agosto.
Após a "enchente" de espécies na noite anterior, ainda passámos pela Nave de Santo António, um prado enorme para encontrarmos a Satyrus actaea, uma espécie que apenas é encontrada na Península Ibérica e em França. A S. actaea apenas é encontrada na Serra da Estrela e na Serra de Montesinho e é uma espécie  peculiar já que em Portugal apenas vive em ambiente montanhoso e em altitude. 
No embargo, ainda conseguimos ver uma fêmea de Pycnogaster jugicola (em baixo) que me fez amaldiçoar por me ter esquecido da bateria da máquina...

Pycnogaster jugicola (Graells, 1851)

Mais tarde, já na Serra da Gardunha, o nosso destino final, tivemos a noite mais quente de todas e um total de 63 espécies de borboletas nocturnas. Esta Serra foi a que apresentou uma biodiversidade mais mediterrânica.
Os destaques vão para a Hyles euphorbiae, Eilema caniola, com mais de 100 indivíduos, assim como nos apareceram cerca de 160 indivíduos de Leucania putrescens e ainda a Cryphia raptricula que é encontrada em poucos locais de Portugal.
Ainda houve espaço para borboletas baterem contra nós, para vespas perigosas; percevejos ainda não identificados; Iris oratoria; e ainda uma Argiope bruennichi, dois morcegos a alimentarem-se das borboletas e ainda, o que achei mais impressionante, uma Cobra-de-pernas-tridáctila (Chalcides striatus).

Gardunha, o pano estava completamente cheio e as borboletas não paravam de chegar! © Fernando Romão


Com tudo o que aprendi nesta semana, só tenho a agradecer a companhia, a experiência e toda a semana em si. Para o ano há mais. 
Em 2012 as datas estão marcadas de 31 de Maio a 4 Junho.
Participe, vale muito a pena! 

Fica aqui o link do evento em Portugal.

1 Comentários:

Tatiana Moreira disse...

Errata: O ortóptero que vimos na Serra da Estrela é um espécime do género Pycnogaster (Tettigonidae).
Obrigada Paulo Lemos pela correcção.

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